As mais belas palavras não ditas

O silêncio bateu no fundo,
desse teu mundo,
do teu olhar.
E quando penso,
nesse silêncio,
que vem profundo,
fico sem ar
fico perdido,
sem te encontrar.
Mas se te encontro,
fico sorrindo
e ao mesmo tempo sigo fingindo
não te estranhar.
E aí me reconheço,
e logo penso
que mesmo no começo,
eu não me impeço,
de te fitar.
E quando te vejo longe,
já mal te sei,
aliás penso sempre que sonhei
com tamanho esbelto olhar.
Então ali me deixo,
já meio morto
mas não me queixo,
e não me importo
se morto continuar.
Ao fim do dia,
o silêncio que se fazia,
já não o sei desenhar,
já nem sei qual foi o dia,
de tremenda melancolia,
em que pensei te amar.

Rainha do silêncio estranho,
do meu encanto tamanho,
volta por entre o nevoeiro,
e faz de mim homem inteiro.

Partiu sem rumo













Ao fundo eu já a via,
sentada nas suas dores,
triste com os seus amores,
esperando só por mim.
Ali parada,
mostrou-me os seus medos,
os seus mais negros segredos,
como se não tivessem fim.

E ao ver-me,
pediu-me só um carinho,
mais um beijo pequeninho,
no canto da sua boca.

E sorriu,
deixou meu olhar gelado,
sem rumo, desencontrado,
como nunca antes fez.
Ali parada,
declarou o seu amor,
apagou toda a dor,
por uma última vez.

E ao ver-me,
pediu-me só um carinho,
mais um beijo pequeninho,
no canto da sua boca.

E beijou,
meus lábios já derretidos,
meios de amor invadidos,
pelo seu olhar.
Ali parada,
mostrou-me um novo mundo,
um amor muito mais profundo,
só por um vez me beijar.

E ao ver-me,
pediu-me só um carinho,
mais um beijo pequeninho,
no canto da sua boca.

Mas partiu,
deixou só a lembrança,
e nem um pouco de esperança,
de a voltar a beijar.
Ali já não estava,
a mulher que vem do sul,
do mais profundo azul,
do mais longínquo mar.

E ao ver-me,
já não vi o seu perfil,
mesmo contando até mil,
ela já não estava ali.

Deusa do Sul

Lá fora chove tristeza,
por não estares aqui.
caem do céu sem beleza,
as lágrimas em que cresci.

Eu bem tento, entrar pelo teu olhar,
eu lamento, sozinho não te amar.

E molham meus pensamentos,
ao fim da tarde cinzenta,
cortam a meio meus sentimentos,
numa dor que me atormenta.

Eu bem tento, entrar pelo teu olhar,
eu lamento, sozinho não te amar.

Já sinto minh'alma cega,
bem perto do teu olhar,
como quem sente uma nega,
por não te poder amar.

Eu bem tento, entrar pelo teu olhar,
eu lamento, sozinho não te amar.

Mas com pensamentos molhados,
pela água do céu cristalina,
sinto-me como os soldados,
condenados pela sina.

Eu bem tento, entrar pelo teu olhar,
eu lamento, sozinho não te amar.

Mas teus olhos não me largam,
não me deixam ser completo,
são como garras que matam,
o meu poema incorrecto.