Empty Space

Tento escrever um poema, mas faltam-me as letras e pior que isso, falta-me a vontade para o escrever. Pela primeira vez na vida faltam-me as palavras e as devidas ligações das mesmas ao que sinto.
Sinto-me com medo.
Mas ao mesmo tempo não sinto nada, apenas uma sensação de tristeza. E tenho medo.
Sinto uma sensação de pura impotência, e o ar foge-me das mãos.
A vida desilude-me, o medo da dor corrói todo o meu corpo. E no entanto, estou aqui sozinho, a pensar no que perdi, nos erros que cometi e naquilo que ainda não vivi.
E não consigo perceber o porquê do medo não me ter medo, do medo se apoderar de mim e de eu não lutar.
Sinto-me fraco, como um farrapo sem vida.
E continuo sem perceber o que fiz de errado.
Sinto-me revoltado. E ao mesmo tempo não sinto nada, apenas um leve arrepio que me congela, que me revela, frágil.
Queria escreve aqui o mais belo dos poemas e ao mesmo tempo não queria ser poeta, queria ser profeta e adivinhar o futuro.
E afinal o que me resta? Nada, eu não sou nada, sinto-me minúsculo, sinto-me como se não soubesse sentir.
Sinto-me perdido.
E ao mesmo tempo sinto-me clarividente.
Queria ter forças para ser poeta, queria saber as palavras mágicas que me levariam ao local certo, mas não passo de nada, não sou mais do que um simples conjunto de passos mal dados.
Sinto-me sem sentido.
E sinto-me perdido.
É ridículo, tudo o que a vida nos dá não passa de nada, e eu não sei viver.
Olhando para o passado percebo que os dias me fogem e me deixam cada vez mais sozinho, percebo claramente que nada percebi até agora. E apesar das frases, das fases da minha vida não fazerem sentido sinto-me forte.
Sinto-me sem norte, sinto-me só!
E ao sentir-me forte fico sem forças, já não sei nada sobre as certezas que tinha. Por onde andei eu estes anos todos?
Estive onde sempre estou,num mundo distante onde tudo é nada. Mas eu quero mais e por isso sinto me fraco. Sinto-me vazio.
Em fundo ouço HISTÓRIAS e a dor aumenta e o sofrimento que sempre me atormenta não sai de mim.
Sinto-me pronto e ao mesmo tempo não paro de pensar qual o sentido desta existência solúvel e rarefeita.
Não tenho nem mais uma lágrima e ao mesmo tempo choro sem parar por não me sentir completo.
Não sei mesmo se o que ganho compensa tudo o que já perdi nesta vida. E sinto-me só.
Nestes dias percebo o Robert.
Nestes dias lembro-me do Hugo.
O amor mata, o amor mói. O amor corrompe e deixa marcas que nem o tempo pode apagar.
Só me falta entender isto tudo. Só me falta tudo.
E ao perceber que estou a passar ao lado, sei que não sei nada e que de nada servem estas palavras.
Queria então ser poeta, saber escrever um poema, mas nada, eu não sou nada e nada escrever eu sei.
Sinto-me eu. E ao mesmo tempo não sei quem eu sou.
Dói-me a alma e sofro de tudo, mesmo sabendo que sinto nada, eu sofro tudo.
Tapo os ouvidos, fecho os olhos e deixo de pensar. E, sinto nada, continuo nada, sem ter lugar.
Sinto-me só e não quero parar de escrever.
Alguém, eu quero ser alguém, mas ao mesmo tempo eu quero nada.
Sofrido, passo a noite em um só sentido.
E sinto-me sem saber o que sentir.
Queria neste momento não estar aqui, ser outro, ou não ser nada.
Sinto-me só. Só me sinto assim.
Mas não sei o que sentir.
Sofro então desta recaída e não sei mesmo para onde me virar. Ao longe já não vejo nada, ao longe não me revejo.
E ao sentir que me perdi, sinto-me sem sentido.
A dor não passa, a fome de outra vida aperta e eu não sei o que sentir.
Sinto-me fraco.
Pela primeira vez eu não sei nada, eu não sei o que sentir.
Não quero perder mais nada.
Tenho medo do medo me vencer. E quero parar de escrever.


Quero escrever um poema,
do outro lado do rio,
sentado ao pé de ti.
Quero saber o teu lema,
e ao sentir o teu frio,
quero fingir que morri.

Quero navegar nesse mar,
do outro lado da lua,
acompanhado por ti.
Quero sentir me acalmar,
do outro lado da rua,
quero chorar por ti.

Os poemas não fazem mais sentido, nada na vida é ou pode ser tão poético quanto eu o sinto.
Sinto-me sem sentido, sinto um sorriso sofrido, sinto me morto, morri?

Sem comentários: